Categorias: Fashionteca Moda

África com Okan: o tecido bem feito Tamoussi

12.06.2017

A gente segue acompanhando a viagem de Lígia Meneghel, da marca Okan, agora em Burkina Faso, onde ela vai encontrar o tear tradicional depois de sua experência com os teares enormes da Cofatex. Confira:

Enquanto os teares da Cofatex do faso dan fani alcançam em média um metro de largura, o tear tradicional não passa de 12 cm, fazendo com que a capacidade de produção seja bem menor e mais lenta -e consequentemente mais cara. Além disso, os homens não tem hábito de se organizar em associações em Bobo Dioualasso, fazendo com que seu trabalho independente conte com menos oportunidades de incentivos e esteja menos organizado pra contatos e negócios com empreendedores. Assim, eles produzem tecidos por encomenda dos comerciantes do mercado local, faixa a faixa.

Entre os tecidos encontrados no mercado de Bobo Dioulasso chama atenção um, cheio de bordados coloridos. Pergunto ao comerciante mas ele não revela o contato de quem o fez. Não é fácil encontrar quem está por trás daquelas produções: não existem informações na internet, nem placas em frente das casas ou associações. É preciso procurar, perguntar, e no boca a boca você encontra alguém que conhece um amigo, que tem um tio que tem um irmão… Assim vou de casa em casa, percorrendo os bairros da cidade muitas vezes divididos por comunidades e etnias, encontrando um trabalhador isolado em cada quintal. Um tece apenas tiras de algodão puro, outro cria faso dan fani com motivos de animais em preto e branco, um senhor tinge o algodão com argila e raízes, até que com a ajuda de um guia local encontro o artista que eu estava procurando.

Em língua bouamou, outro idioma falado na região, Tamoussi significa bem feito: esse é o nome do tecido que Biehum Biebo tece em seu tear manual no quintal de terra de sua casa. Como quase todos os saberes tradicionais locais, esse foi passado de geração em geração – no caso, ele aprendeu com o pai. Sua família vive em sua vila natal, Boku, assim como muitos outros tecelões: é nas comunidades rurais que os conhecimentos ancestrais são preservados e praticados. No total são 10 pessoas em sua família produzindo os Tamoussi. Depois que Biehum tece, sua mulher agrupa as faixas de tecido de algodão costurando à mão pra criar a peça, composta de 1 pano grande e um foulard.

Cada conjunto leva um dia e meio pra ser feito, o que explica seu valor pouco acessível pra população – é um tecido usado em ocasiões e eventos sociais especiais ou, como explica Biehum, por políticos que tem poder aquisitivo suficiente. 
Depois de tecer, ele borda formas abstratas, animais e objetos do cotidiano à mão com linhas coloridas. Bamba fani é o tecido que traz a imagem do jacaré: bamba significa jacaré e fani vestimenta. Varossi, ou, “a colheita é boa”, tem a imagem de uma enxadaniesa, o pássaro, também é recorrente. É na simplicidade do dia-a-dia que a inspiração aparece pra criar peças ricas em cores, formas e detalhes. Mais do que artista, Biehum é um artista da resistência.

Lígia Meneghel Chagas, da marca Okan, infohunter do Site Lilian Pacce direto de Burkina Faso

Tags:                      

Compartilhar