África com Okan: a bolsa tamacheque

29.05.2017

A gente continua acompanhando o diário de viagem de Lígia Meneghel pelo Mali e sabendo mais sobre a cultura de vestuário da região – vem conferir:

Marché N’Golonina é um mercado de artesãos próximo às margens do rio Níger em Bamako. Entre os corredores das pequenas lojas, artesãos trabalham caixas de madeira decoradas com delicados desenhos e revestidas de couro de cabra tingido. O mercado é vivo, e o processo de criação pode ser visto a cada passo entre as estreitas ruas de terra. As caixas, assim como braceletes e bolsas fabricados no mesmo processo, fazem parte de um conjunto extenso e complexo de aparatos da cultura tamacheque. Facões decorados com capas de couro, espadas de Timbuctu, lanças, piteiras, celas de camelo, joalheria, amuletos… Cada peça vai muito além de sua função prática: o trabalho decorativo de gravura no metal, madeira e couro é minucioso. Além dos produtos recém-criados, o mercado oferece também peças de antiquário – objetos raros, e quanto mais antigo e usado maior o valor!

No espaço de Mohammed, um conjunto de bolsas tamacheque chama atenção. Cada uma delas é confeccionada pela mãe e pelas mulheres da família de Mohammed no Níger, seu país natal. Usadas principalmente pelos homens, elas são verdadeiras esculturas em madeira revestidas de couro nas cores vermelho, verde e amarelo, decoradas com franjas e pintadas à mão.

Abdul, primo de Mohammed que possui uma loja em frente e que domina melhor a língua francesa, traduz a conversa e explica que cada modelo está relacionado a uma cultura e região do complexo tamacheque. Dessa forma, nos encontros sociais e comemorativos do Saara, a origem de cada um pode ser reconhecida pela forma, desenhos e cores da bolsa que leva pendurada no pescoço – posicionada em frente ao corpo e não de lado, como no costume ocidental.

A bolsa não é o único meio de reconhecimento: os pingentes fazem igualmente parte desse aparato decorativo e de identificação. São diversos os amuletos, seja em forma de pingente, espelho ou gris-gris (uma bolsinha-talismã) encobertos de couro que os homens levam sob o turbante.

Algumas bolsas são cobertas de espelhos, usados pra ver o próprio reflexo ou como escudo contra forças negativas. Elas, assim como outros objetos da cultura material de comunidades diversas da região, são geralmente produzidas pela família da noiva e oferecidas à mesma. A produção de objetos funcionais e decorativos pro enxoval também é um investimento – as peças funcionam como moeda de troca, podem ser vendidas ou intercambiadas quando necessário. A bolsa em formato quadrado com franjas que está no ateliê pertence à região de Agadez, assim como a cela de camelo ao lado, pra ser usada em conjunto. Abdul comenta que os detalhes em metal na cela são feitos no local por ele e outros homens, depois que as mulheres no Níger decoraram o couro.

Ligia Meneghel, da marca Okan, infohunter do site Lilian Pacce direto de Mali

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