A mulher num mundo de homens, por Vanessa Beecroft

28.11.2012

Vanessa Beecroft, artista italiana de 43 anos, está de volta ao Brasil – ela é convidada da 6ª edição do Pense Moda. É a 4ª vez dela no país – além de duas visitas pra turismo, ela participou da Bienal de Arte de SP em 2002 com sua perfomance VB50, que você confere na galeria acima. O trabalho dela, sempre voltado ao feminino e nudez, é frequentemente associado a grandes marcas de moda – em 2005, por exemplo, foi convidada pela Louis Vuitton pra produzir uma performance especial durante a abertura da loja no Champs-Élysées, em Paris. É sobre essa ironia entre moda e ausência de roupas que iniciamos nossa conversa com ela, que você lê abaixo:

Como você percebe esse interesse das marcas de moda no seu trabalho, que tem a ver com nudez?
Acho muito estranho, porque não é proposital de maneira alguma. Até me envergonhava um pouco, porque fui criada por minha mãe e ela era totalmente contra moda, foi assim que cresci. Ela me ensinou que moda é uma coisa triste, superficial. Não é arte e não é cultura… Esse encontro fashion com meu trabalho não foi nada voluntário, foi bem acidental. Acho que aconteceu porque trabalho com o feminino e as garotas das performances se parecem com modelos. A moda e eu temos assuntos em comum: os saltos, os acessórios, a fotografia – todos os elementos da moda que se aproximam da arte podem ser encontrados no meu trabalho.

O que sua mãe acha do seu trabalho?
Não falamos muito sobre isso, na verdade… Ela foi em duas performances minhas, mas não discutimos sobre isso. Talvez por medo? Não sei, talvez ela ache que as garotas nuas tenham a ver com algum trauma relacionado a ela ou algum distúrbio alimentar. Tenho certeza que ela entende mas, no geral, fingimos que meu trabalho não existe (risos). O detalhe é que, mesmo muito intelectual e contra a moda, ela nunca sai de casa sem rímel. É uma coisa italiana, acho. Nos EUA, onde moro, posso sair de casa de pijama que ninguém vai notar. É um mundo muito mais masculino.

Falando nisso, você fez um editorial pra “Vogue Homme” em 2002, que também fala sobre a relação homem/mulher. Conte um pouco mais sobre isso.
Foi bem interessante – o Richard Barkley que me pediu pra fazer. Quis mostrar a diferença entre o mundo feminino e masculino. Temos dois homens vestidos com ternos, meu marido e meu irmão, e essa mulher maravilhosa, uma professora de ioga de quase 2 metros, de ponta cabeça e nua. São mundos totalmente diferentes.

Qual é a principal diferença entre o mundo feminino e masculino, na sua opinião?
Homens são mais primitivos. Numa de minhas exposições, coloquei imigrantes africanos comendo frango, mas só as mulheres usavam talheres, os homens comiam com as mãos. Pra mostrar como eles são bem mais brutos.

Voltando à moda, o que você acha de estilistas homens fazendo roupas pra mulheres?
É complicado – como alguém faz roupas femininas sem querer ser uma mulher? Existe uma projeção, uma imposição – como as peças do Armani, que são tão pequenas! Como uma mulher vai caber naquilo? Acho que os homens gays conseguem dar um poder maior pra mulher, como Yves Saint Laurent. Gostava muito das peças da Maison Martin Margiela, mas agora que ele saiu, não me anima muito.

Qual você acha que é o maior poder feminino?
Ter filhos, com certeza. Faz parte da natureza feminina ser mãe. E é uma coisa tão bonita, conseguir ser mãe e ainda ser linda e inteligente, se manter ativa.

O que você acha das mulheres que decidem não ter filho?
Acho que é agir como homem num mundo masculino – se submeter às regras deles. Não é fácil ser mãe nessa sociedade masculina, é preciso ter uma certa quantidade de dinheiro, ter ajuda. Entendo porque algumas mulheres decidem abrir mão desse direito, mas não acho natural.

Como seria um mundo mais feminino?
Seríamos mais próximos da natureza e haveria menos guerras. Acho que haveria menos consumismo também, porque somos mais sensíveis. Seria um mundo muito melhor!

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