Tribo Masai e seu direito de propriedade intelectual na moda

19.02.2017

Os Masai (ou Maasai) são uma tribo seminômade africana de parte da Tanzânia e do Quênia, reconhecida por suas vestimentas – um tecido (normalmente de algodão) na cor vermelha, chamado shuka, é drapeado pelo corpo em estampas bem diferentes, mais comumente o xadrez. Como ornamentos, usam colares em contas e miçangas feitos pelas mães da tribo, onde cada cor simboliza um aspecto do guerreiro que o veste: o azul representa o céu e Deus; o verde, a vegetação; o branco, o leite e a pureza; o vermelho, o sangue das vacas (é parte do costume da tribo se alimentar dele) e a força dos guerreiros; o preto, a cor das pessoas da tribo e a tolerância; o laranja, mais comumente usado pelas mulheres, sugere hospitalidade; e o amarelo, os raios de Sol.

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Em tempos de discussão sobre apropriação cultural, pipocam dúvidas referentes à indústria da moda, que utiliza outras culturas, como as africanas, como referência constante. Quer exemplos específicos dos Masai? John Galliano na Dior, na primavera-verão 1997; a Missoni, na primavera-verão 2016; no desfile masculino da Louis Vuitton de primavera-verão 2012, com Marc Jacobs no comando; os sapatos da Brother Vellies, que custam entre US$ 195 a US$ 650. Recentemente, rolou a discussão também de apropriação cultural no outono-inverno 2017/18 da Marc Jacobs, com a temática do hip-hop. E teve o recente caso da menina branca com câncer usando turbante, que deu o que falar aqui no Brasil. 

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Pensando no quanto os Masai eram tomados como referência e inspiração pelas marcas e não obtinham nenhum tipo de retorno com isso, foi criado o “MIPI” (Maasai Intellectual Property Initiative), que justamente protege os direitos à propriedade intelectual deles. Segundo a iniciativa, mais de 80% da tribo vive abaixo da linha da pobreza, e cerca de 80 marcas já utilizaram elementos referentes à ela – isso significa US$ 10 milhões em receita anualmente (cerca de R$ 31 milhões de reais), mas nenhum retorno às tribos. Muitas marcas detém a propriedade intelectual de produtos – como é o caso do xadrez da Burberry e a sola vermelha da Louboutin. Isso significa que ninguém poderia lançar produtos sem uma licença deles. Nada mais que justo que a mesma coisa aconteça no caso dos Masai, não é mesmo?

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Mas pra citar casos que geram receita pra países com graves problemas de pobreza: lembra da coleção de bolsas de Vivienne Westwood, todas produzidas em Nairobi, capital do Quênia, com apoio da “Ethical Fashion Initiative? Marni, Stella Jean e Stella McCartney também participaram da parceria – e segundo que a própria EFI reforça, não é caridade – é trabalho. E com vibe sustentável também! Assunto polêmico pra reflexão, mesmo porque muita gente confunde o conceito de apropriação cultural com o de intercâmbio cultural, sendo que um inclui capitalização, empresas que não tem nada a ver com a cultura ganhando dinheiro com ela… e o outro vem de interação humana, troca e enriquecimento cultural de ambas as partes. Né? E aí, o que você acha? Comenta!

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