O graffiti em forma de crochê de Karen Bazzeo

26.05.2016

Algumas pessoas já devem ter se deparado por SP com os graffitis feitos em crochê de Karen Bazzeo! A artista é formada em design editorial, trabalhou na área por 9 anos, mas largou tudo pra viver seu sonho. Foi em sua casa no interior que reencontrou um hobby de infância: o crochê! Desde então, não parou mais e encontrou na atividade uma maneira de se expressar – pra isso, criou a Dolorez Crochez! Pra conhecer melhor a sua história, batemos um papo com Karen e perguntamos o que a inspira e como é trabalhar com o que ama. Abaixo, você encontra a entrevista e, na galeria, você confere um pouco do seu trabalho!

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Onde você aprendeu a fazer crochê?
Aprendi com a minha mãe quando era criança e depois fui desenvolvendo assistindo vídeos no Youtube. Nunca fiz aulas de crochê em si, apenas de costura livre, renda de bilro, entre outros.

O que você fazia antes do crochê? Por que resolveu largar tudo e investir em uma nova carreira?
Eu estava em crise profissional. Trabalhava com design editorial e gostava um pouco, mas acho que o mercado também não ajudou – é aquela história clássica em que editoras e agências de publicidade te fazem trabalhar enlouquecidamente e não respeitam os direitos do trabalhador e da pessoa. Sentia que precisava fazer algo em que pudesse me expressar mais, desenvolver e potencializar. Intuitivamente segui essas sensações até me encontrar com o crochê.

Por que decidiu fazer as intervenções artísticas?
Foi natural. A princípio, tinha pensado em fazer peças de decoração, por isso criei um nome pro ateliê. Mas o 1º trabalho que fiz já foi na rua, no projeto “#pegue1coração“: malhas foram crochetadas e colocadas em árvores e postes, junto com corações em crochê acompanhados de uma plaquinha que dizia “Pegue 1 coração”, pra que as pessoas pudessem interagir. As respostas que tive com esse trabalho foram tão significativas que passei a trabalhar somente com isso e especialmente nas ruas.

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Como você se inspira?
Qualquer coisa pode inspirar: músicas, poesias, livros, textos que leio na internet, conversas com pessoas, olhares, histórias… Ultimamente, coisas que me revoltam também têm servido de inspiração. Nesses casos, eu tento não expressar com raiva ou de maneira negativa, e sim de maneira positiva, justamente negando o que fazemos muitas vezes por impulso.

Quais são as suas referências no mundo da moda e da arte?
Muitas pessoas me influenciam, inclusive algumas que não são de nenhum desses mundos. Mas tem a Olek, uma artista incrível que trabalha só com crochê também e que faz muitas intervenções grandes nas ruas. No mundo da moda, posso citar a estilista brasileira Helen Rödel  o trabalho dela é maravilhoso, sempre muito cuidadoso, delicado e com uma finalização impecável.

Você faz um planejamento da obra ou ela acontece de maneira orgânica?
Na maioria das vezes, ela acontece de maneira orgânica. Alguma coisa me inspira, eu tenho as ideias e simplesmente começo a crochetar. De vez em quando, faço alguns esboços pra seguir também. Pra não me sentir presa a espaços e tamanhos, eu costumo produzir primeiro e depois procuro o espaço pra instalação.

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Quais são as suas técnicas e materiais favoritos? 
Eu trabalho sempre com crochê e utilizo lãs e barbantes. Tenho trabalhado também com alguns materiais diferentes, mas, por enquanto, estão apenas em fase de teste. Quanto ao ponto, depende do formato e do que estou fazendo; geralmente uso mais o ponto alto do crochê.

Existe em seu trabalho um comprometimento com a sustentabilidade?
Sim! Além de procurar utilizar os fios sempre de forma sustentável (reutilizando restos, trocando ou doando materiais), eu tenho um projeto chamado “Plante 1 Coração“. Ele é bem parecido com o “#pegue1coração”, a diferença é que costuro corações com fios ecológicos e dentro coloco sementes pra que as pessoas possam plantar.

Como foi usar a sua arte como forma de protesto? Você sempre imaginou as suas obras com esse viés político?
De certa forma sim, só que eu não sabia (risos). A minha intenção sempre foi me expressar, me desenvolver profissional e emocionalmente. Eu comecei expressando sentimentos mais pessoais e, de repente, me vi querendo falar sobre minha relação com a cidade, com a cultura machista, com atitudes do governo com as quais eu não concordava – tudo aconteceu de forma natural.

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Como foi a experiência de ajudar os adolescentes na ocupação das escolas?
Me juntei com algumas amigas e oferecemos oficinas de crochê em algumas escolas ocupadas (E. E. Fernão Dias e E.E. Prof. Ciridião). Além de ensinarmos os pontos básicos de crochê, também desenvolvemos algumas peças pros estudantes usarem nas manifestações e nas próprias escolas. Produzimos “cartazes” de protestos com diversos dizeres em crochê como, por exemplo, #ocupasp, Escolas Livres, Escolas em Luta. Ao mesmo tempo, tentamos conversar com os alunos a respeito da importância dessas ocupações, entender suas reivindicações e demonstrar a importância da arte também nos momentos de luta. Foi uma experiência muito legal!

Você está com algum projeto atualmente?
Sim, meu projeto principal é o “A rua é minha tela”, onde eu coloco os desenhos e frases nas ruas. Ele está sempre acontecendo em paralelo com outros trabalhos. Também dou algumas oficinas no Sesc e em algumas escolas públicas.

Quais são seus planos pro futuro? Pretende seguir com a marca e com as interferências na rua?
Pretendo sim! Hoje em dia, meu trabalho é o Dolorez Crochez. Cada vez mais tenho me envolvido com ele e desenvolvido diversos projetos que têm rendido muita repercussão legal. Tenho feito um trabalho amplo com o ateliê. Escrevo no meu blog também (Dolorez e Eu), onde compartilho minhas inspirações, dou dicas, conto do making of, instalações, etc. É uma espécie de extensão do meu trabalho, que posso compartilhar pra ficar mais próxima das pessoas, e que segue em paralelo com as oficinas, que também gosto de fazer.

Dolorez Crochez: karen@dolorezcrochez.com

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