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Com a palavra, Gilles Lipovetsky

23.09.2010

Aurea Calcavecchialipo1Gilles Lipovetsky fala sobre o hiperconsumo

Gilles Lipovetsky, antes de tudo, é um bom professor. Porque não adianta você ser filósofo e ninguém te entender. E pra explicar seu conceito de hipermodernidade ele fala, fala, exemplifica e fala de novo, pra tudo ficar o mais claro possível. E afinal, o que é a hipermodernidade? Segundo o que ele expôs em palestra em SP ontem, ela pode ser definida em 6 aspectos que caracterizam uma sociedade transformada, mais precisamente, a partir da 2ª Guerra Mundial.

Pra começar, o mundo hipermoderno mudou sua forma de consumo. O que antes era um consumo de massa coletivo virou um consumo de massa hiperindividual. Se antes uma família comprava uma TV pra assistir a novela, todos juntos na sala, hoje cada um tem a sua e assiste o que quer, em quartos separados. São mais TVs pra corresponder às necessidades de consumo de uma massa separatista. E esse quadro não se refere apenas às classes mais favorecidas, porque, de acordo com ele, não existe mais esse tipo de diferenciação. Hoje pobres e ricos querem usar as mesmas coisas, do fast fashion ao alto luxo. E, assim sendo, as marcas ganham um lugar de destaque e guiam o novo consumidor – o hiperconsumidor – que perdeu suas referências culturais e se vê representado por etiquetas.

São elas que dizem quem ele é e que, mais importante, dão a sensação que ele busca. Mas não se compra mais por necessidade de cada produto. Gastamos em viagens, em tratamentos, em cultura. Queremos novas sensações, colecionar experiências e compensamos nossas angústias no shopping. Ou nos sites de compras, porque a tecnologia é outro fator importante na teoria de Lipovetsky. É um outro termômetro pro mercado, que ainda se acostuma com o fato de que o consumidor não precisa mais sair de casa e quer ter mais voz ativa. Twitter, Facebook e os blogs dão espaço pra qualquer um reclamar, elogiar e até fazer publicidade gratuita!

Aurea Calcavecchialipo“A questão ambiental é um dever”

Ou seja, o hiperindivíduo, que também é um hiperconsumidor, é mais imprevisível do que parece. Mas não é o fim do mundo pras marcas. Pra se dar bem nessa história toda, elas precisam se adequar e, nas palavras dele, partilhar o poder com seus consumidores, seja nas opções dispostas ou na forma de apresentá-las. Bom pra elas – e no meio de todo esse consumo desenfreado, que não tende a diminuir, como fica o meio ambiente?

Ele se dedicou a responder a nossa pergunta de uma forma muito realista. Gilles acha que é um sonho frear o hiperconsumidor e prefere manter os pés no chão. A única coisa capaz de deixar o consumo em 2º plano é se dedicar a outras paixões. A dele é a fé na capacidade humana na criatividade e ciência. Criar novas tecnologias que poluam menos, reaproveitar matérias, explorar a sustentabilidade. Porque o discurso privativo não funciona com os seres humanos. Não conseguiremos fazer imposições pra que as pessoas deixem de andar de carro, deixem de usar aquecedores e coloquem de lado seus pequenos luxos. “A vida frugal, baseada nas coisas simples, é coisa pros intelectuais”, ele disse. E o desafio ambiental é uma questão de inteligência, de informação – não basta ameaçar a população, é preciso conscientizá-la, torná-la parte ativa desse processo pra que ela se envolva e transforme. “Pra mim, a questão ambiental é um dever. Mas deve-se ter cuidado. Nos países desenvolvidos não há problema em discutir isso, mas aqueles que estão em desenvolvimento não querem sentir nenhum tipo de freio por esse motivo”. É pra isso que se usa o termo desenvolvimento sustentável.

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