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A SP de Cláudio Edinger

26.03.2009

Autor de 13 livros fotográficos, Claúdio Edinger acaba de adicionar mais um título ao seu currículo. “São Paulo: Minha Estranha Cidade Linda” está sendo lançado com direito a uma exposição bacanérrima na galeria Arte 57. Pra marcar a chegada da edição às livrarias – uma obra formada por 82 fotografias de paisagens paulistanas registradas entre 2006 e 2008, trabalho que lhe rendeu o Prêmio Porto Seguro de Fotografia – Cláudio apresenta um pedacinho do livro aqui no Blog LP. Tem mais: ele nos envia um texto contando um pouco de sua relação com a cidade. Veja que bonito!

“Minha paixão por SP começou em 1954, quando eu ainda nem tinha 2 anos de idade. Meus pais haviam me trazido do Rio, onde nasci. A mudança me deixou confuso. Cadê minha praia de todo dia? Em frente ao nosso apartamento pequeno na Vila Buarque ficava a ótima praça Leopoldo Fróes, assim chamada em homenagem ao famoso ator do século 19. No dia 25 de janeiro a cidade comemorava seu IV centenário e quando meus pais me levaram para a rua, à noite, uma coisa extraordinária aconteceu: choviam do céu pequenos triângulos prateados de papel alumínio. Todo mundo estava na rua Major Sertório, correndo atrás da magia do céu como num filme de Fellini. Nunca mais vou esquecer a minha felicidade naquela noite.

Nos mudamos logo em seguida para o bairro de Higienópolis, onde teria morado minha vida toda (moro até hoje) se não fossem os 20 anos que passei em NY – que foi como aquela história de amor em que casamos com uma, mas sempre pensando na outra que ficou pra trás.

Meu primeiro projeto fotográfico foi sobre o edifício Martinelli. SP é genial por ter uma característica única. Quando Buñuel exibiu pela primeira vez seu filme surrealista ‘Anjo Exterminador’, escreveu na porta do cinema: ‘a única explicação racional para este filme é que não tem explicação nenhuma’. SP é assim, sua maior característica é não ter característica nenhuma: é antropofágica, engole tudo o que vê lá fora e cospe os bairros aqui. O edifício Martinelli chegou a ser o prédio mais chique da cidade, mas quando entrei lá pela primeira vez em abril de 1975, vencendo o medo que davam aqueles corredores escuros, havia se transformado numa grande favela.

Este contraste da cidade, onde nada é o que parece, é o que me interessa. O surrealismo da vida, onde figuras de uma vitrine parecem observar tudo o que se passa, onde o fluxo de mudanças constante cria um mundo paralelo, é o que eu tento fotografar. O focado e o desfocado na mesma imagem procuram provocar uma ambigüidade artificial, demonstrando o que de fato acontece na vida real. Nossa relação com a grande cidade flutua entre amor e ódio, desejo de partir e, ao mesmo tempo, necessidade de ficar”.

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