Como as bactérias podem gerar matéria-prima pra moda? #SB17SP

20.09.2017

A partir de competições mundiais com foco na biologia sintética, toda uma gama de conhecimento na área acabou florescendo. Aqui no Brasil existe o Clube de Biologia Sintética da USP, o Synbiobrasil, e uma das pessoas que faz parte desse grupo é a Rita Wu, que a gente conheceu durante o evento Sustainable Brands na arena de debate sobre biomateriais capitaneada pelo MateriaLab, uma empresa de consultoria sobre novos materiais. Rita estudou física, passou pela farmácia, tem formação em arquitetura mas começou a trabalhar mesmo com computação vestível. De lá pra cá, ela se voltou pras bactérias no Synbiobrasil, inicialmente em estudos voltados pra saúde. Mas na área da moda, a bactéria pode ser usada principalmente por causa dos biofilmes! Como é isso? Foi com essa curiosidade que a gente entrou num papo com ela que parece superfuturista – mas o futuro é agora! Vem conferir:

O que é um biofilme?
É um subproduto de colônias de bactérias, elas se aglomeram e começam a excretar substâncias. Ele pode ter várias características. Um exemplo é o kombucha, outro é a placa que se forma no nosso dente. A placa é um biofilme.

E como funciona a aplicação deles em moda?
A gente sempre usou coisas do reino animal e vegetal, como fibras vegetais, couro etc. e agora caminhamos pra outros reinos, como micélios (a parte visível do fungo, a parte fibrosa) e biofilmes de bactérias. São coisas que podem ser usadas como um tecido pra produzir roupas.

Já existe a aplicação desses biomateriais?
Sim, existem estilistas fazendo jaquetas e bolsas com o kombucha, que é uma colônia de fungos e bactérias. Também tem o kefir – o mais conhecido é o da fermentação de leite, mas também existe o de água. Dá pra ter um biofilme a partir dele, mas o processo é mais difícil porque você precisa de um ambiente mais controlado. Mas tem até peixes que conseguem excretar coisas parecidas com biofilme! É que essas duas colônias são as mais utilizadas até agora pra isso.

Eles ainda não são comercializados por quê?
Ainda é experimental porque a escalonação é difícil. Precisa de biorreator, são processos industriais bastante complexos nos quais pequenas alterações de temperatura, umidade e pressão já dão muita diferença. São organismos vivos que você tem que ficar em cima, sabe? Morre muito fácil. Sei que a 3M tem uma área de biofilme bem importante, é a única que me lembro entre marcas grandes. E na área farmacêutica você já utiliza bactérias pra produzir insulina

Saiba mais sobre o “couro” produzido com kombucha

O seu próximo campo de estudo é sobre bactéria e cheiro?
Já estou há algum tempo estudando pra que a bactéria produza cheiros. Isso, aliás, a gente já consegue: dá pra fazê-la produzir cheiro de melancia, por exemplo. Mas o principal é tentar neutralizar odor no contato da bactéria com o microbioma que existe na pele de qualquer pessoa – é quase uma colônia inversa pra neutralizar o cheiro produzido pela sua própria colônia.

Na prática isso funcionaria como um substituto ao desodorante?
Sim, desodorante e 0utras coisas, como na área da boca, onde existe um monte de bactéria. Chulé, outras partes… (Risos) Enfim, vale pra todo o corpo. Às vezes a pessoa tem “cecê” e não é questão de tomar banho, é uma questão de suor e das bactérias que vão se alimentar desse suor, que acabam produzindo o cheiro. Não é necessariamente uma questão de higiene, cada um tem colônias muito específicas de bactérias tanto fora quanto dentro do corpo.

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