SPFW primavera-verão 2005/06 – Quinto dia

02.07.2005

O deputado Turco Loco está com sorte como empresário de moda. Depois da ótima estréia da Cavalera em desfile-solo masculino, foi a vez da V. Rom dar um verdadeiro show de bola ontem de manhã no estádio do Pacaembu, onde mostrou uma coleção masculina inspirada em futebol. “Haja o que houver, somos uma raça única”. Com essa idéia na cabeça, os estilistas Rogério Hideki e Vitor Santos, da V.Rom, elegeram o futebol como expoente máximo dessa união. A influência veio dos times, uniformes, torcedores e estádios dos anos 20 e 40. “O design do Pacaembu representa bem essa idéia retrô”, diz Vitor.

As peças trabalham a estética dos uniformes, como as listras bicolores, principalmente em preto e branco ou no desbotado vermelho e cru, tanto nas charmosas pólos antigas quanto nos paletós de alfaiataria. Jaquetinhas de cambraia dão transparência revelando cores vivas. Brasões e estrelas completam o look. A novidade é a linha feminina dentro da V. Rom – já que todo craque que se preza tem uma linda modelo ao seu lado até levar o cartão vermelho – o mais novo penduricalho das calças de modelagem street. Esta menina gosta de batinhas, inspiradas nas pólos dos jogadores, nos vestidos em tons lavados e nas peças de algodão. “Sobre as cores, eu sou suspeito, sempre adorei verde. Dizem que um estilista que não coloca suas cores prediletas em seu trabalho não é coerente”, explica Vitor, ao ser questionado sobre sua preferência pela cor do gramado.

Para André Lima, não basta ser mulher, é preciso ser deusa. Já que seus vestidos fluidos megaestampados só cabem nessas musas do olimpo, que flutuam poderosas sobre as mortais. Com Ângela Maria cantando Babalu e modelos com cabeças florais que ele define como “Havaí demente”, arrematados por brincos surreais, os vestidos realçam as costas e os decotes. E deixam espaço para contemplar cada estampa, mesmo que o modelo junte vários desenhos numa peça só, sejam florais coloridos ou folhagens em preto-e-branco, bem de surfista.

É uma mulher de Hollywood dos anos 40, só que no mais hi-tech technicolor. A influência dos quimonos vem superdepurada na faixa bordada na cintura. Seu modelo mais básico são os vestidos de tricô de lurex, sempre muito sensual.

O crash de estampas e a mistura de retalhos e recortes é a marca do verão de Lino Villaventura, num trabalho quase insano de patchwork. Pena que o styling hiperbarroco acaba confundindo o olhar, desviando o foco da bela construção dos vestidos com volume e dos tops corsetados construídos com adamascados, tapeçarias e até chifom leves. Em vez da pele morena do verão, ele cobre as modelos dos pés e mãos à cabeça com um body segunda-pele, quase sempre com estampas florais em tons de outono. “O mote é a beleza. Trabalhei muito com a emoção e procurei transcender alguns limites. Não tem nada estapafúrdio”, afirma Villaventura. Mas no final, causa estranheza, mas a gente preferia ficar mesmo é com a beleza.

O verde também ganhou importância cênica no verão da Huis Clos. O conceito do desfile nasceu de uma canaleta, uma espécie de fenda para passar e amarrar tecidos. E grande parte dos looks traz o verde e o amarelo como recurso que acende tons neutros como o cinza claro e o bege. Com concepção de desfile assinada por Bia Lessa, que forrou a sala com grandes telões para projetar estampas e citações, a coleção ganhou mais dramaticidade. Foi um bom exercício de continuidade, com os volumes, amarrações, saias tulipas ou godês, os casaquetos 3/4, os vestidos e blusas repuxados, saias e bermudas no joelho e as costas nuas _  obsessões da estilista. “Uma das referências mais fortes que trabalhei foi a imagem de uma mulher na praia, de costas.

Daí vieram os outros elementos da coleção”. Outro trunfo é a rigorosa escolha de tecidos, como o 100% algodão com fio de lurex, linho com lurex, algodão com elastano e a cambraia mista.

Numa homenagem explícita ao estilista Oleg Cassini, Fause Haten alinhavou uma coleção estilo tapete vermelho, toda cortada em tecidos nobres. Muitas camadas de musseline, organza, cetim, tafetá e o paetê aplicado em jeans ou delineando as estampas de mulheres concebidas pelo artista plásticos inglês Gary Hume . A silhueta brincou com saias tulipas e contrastou com a cintura baixa dos anos 20. Os corsets e tomara-que-caia foram construídos com tule entertelado e ganham arremates de renda na linha lingerie à mostra. O bolero arredondado – estilo Jackie Kennedy – têm tudo para ganhar às ruas, especialmente a versão jeans, usada com a boa saia de paetê furta-cor. Outro ponto alto são as versões de cetim da utilitária salopete, seja em vestidos ou macacões, contribuem para desperuar o look sem perder o glamour.
Além de levar o conceito a sério demais, Mareu Nitschke complica um pouco a sua roupa. A coleção, batizada de Crepúsculo Tropical, remete ao contraste entre o dark e o trópico, tendo como fio condutor a história do Crepúsculo de Cubatão, club underground carioca de 20 anos atrás que inseriu na noite do Rio notívagos com marca de biquíni. Dessa mistura vem a composição de peças pálidas e acinzentadas em bege, verde e azul com elementos do carnaval brasileiro. Os sapatos vêm dos anos 80, com congas e bonecas, com bordadinhos.

Lilian Pacce
(colaboraram Ailton Pimentel e Jade Augusto Gola)

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