SPFW Primavera-Verão 2001/02

28.06.2001

Ao contrário das dez temporadas anteriores, a São Paulo Fashion Week abriu os lançamentos para primavera-verão 2001/2002 com o desfile das coleções masculinas. O dia masculino foi cool, sem o frisson histérico de outras vezes, quando o evento mais parecia um poleiro de celebridades do que uma passarela de moda. Sim, o star system faz parte do negócio, mas ele não pode tirar o foco do principal, que é a roupa! É claro que precisamos de estrelas, e elas estavam lá: Gugu Liberato e Raul Cortez, por exemplo, assistiram ao desfile de Ricardo Almeida.

Alexandre Herchcovitch abriu a temporada com a coleção mais “realista” do dia. Mostrou a roupa que a gente vê de fato nas ruas, com o twist que sua criatividade sabe explorar numa cartela de cores concisa e forte (amarelo, magenta, verde-água, marinho e branco). Foi um respiro depois do excesso country-punk da coleção de inverno. Patrocinado por uma marca de celular, ele colocou todos os modelos usando um fone de ouvido conectado a este novo aparelho que vem com rádio. Tudo é bem urbano, em formas amplas e confortáveis, que podem ser “ajustadas” por tiras de elástico – as mesmas que arrematam sua nova linha de underwear masculino produzida pela Zorba. As tiras punk-utilitárias podem ser no mais castiço branco e brincam de suspensório, colete e tapa-sexo.

O cabelo ondulado e a trilha foram homenagem a Joey Ramone, dos Ramones, morto recentemente. No meio do look andrógino, Herchcovitch soltou três meninas (entre elas Cristine Fontanari) mostrando que entre os jovens tanto faz se a roupa é masculina ou feminina. O que eles querem mesmo é camiseta e calça jeans. O jeans, aliás, evolui em novas padronagens. O vichy vem menorzinho e o jeans pode formar faixas laterais ou quadradinhos, brincando de negativo-positivo. Na alfaiataria, jaquetas de tecido tipo papel, que vai amassando conforme o uso.

As camisas de cambraia de Fause Haten também vieram amassadas. Antes de vesti-las, o estilista as deixou bem enroladas para dar o efeito desejado. “Depois de uma entrevista que eu dei para o programa ‘GNT Fashion‘, sobre tecidos que dispensam o ferro elétrico para colaborar com o apagão, resolvi amassar toda a coleção”, disse Haten. O surfista chic de Haten desfila ao som de um quarteto de cordas e transpõe sua estampa de hibiscos do dia-a-dia para a noite, em bordados de vidrilho branco sobre branco. Também à noite, esse surfista troca suas camisetas de nuvens por calças com faixa de smoking de couro. Tudo com sandália havaiana e colares de orquídea natural. Boas as listras-pijama, em branco, vermelho e azul.

Ricardo Almeida, que está na SPFW desde o início, quando era o único a desfilar coleção masculina, trouxe uma silhueta sequinha, bem mod inglês, para uma passarela em preto e branco, que são suas cores preferidas para o verão. Ele inventa novas riscas-de-giz em deliciosa lã tropical e até seus ternos são para homens sarados, com medidas de modelo. As listras são um ponto alto da coleção, em versão azul/cáqui sobre branco ou vermelho/cinza sobre branco. Ótimas as jaquetas básicas de couro.

Enquanto Ricardo é veterano no evento, Mario Queiroz fez uma boa estréia depois de ter participado do Phytoervas e da Semana de Moda Casa de Criadores. Sua coleção brada a vida nos mares e o deus Netuno, em imagem criada por ele. Seu homem mistura elementos dos surfistas e dos marinheiros, no dia e na noite. Influenciado pela viagem que fez à Lisboa, Queiroz cria barrados inspirados nos azulejos portugueses, seja em estampas ou em bordados de linha ou vidrilho.

Coube a Ellus o título de desfile mais animado e bem editado da estação passada. O desfile era uma festa de formatura. Agora, esses rapazes estão de férias e resolveram andar pelo mundo, com escala certa em portos badalados e no Havaí, é claro. Aqui também os marinheiros são o ideal masculino e é de seus uniformes que saem as roupas da temporada: abotoamento, golas e listras de marinheiro (em versão paetada para a noite), além das insígnias da Marinha (onde aparece mais claro o espírito customizado, de roupa reciclada, da coleção), compõem o guarda-roupa do homem Ellus.

FASHIONET

Maracatu fashion – A bandana que vem com o convite da Blue Man tem estampa de maracatu que o estilista David Azulay descobriu vendo uma matéria sobre Ariano Suassuna.

Day off – A top Caroline Ribeiro embarcou ontem à noite para NY. Passa o dia de hoje fotografando para a “Vogue” América e já desembarca de novo na SP Fashion Week amanhã. Vai desfilar para Ronaldo Fraga, Fause Haten e Forum.

Exportação – Os compradores internacionais que acompanham a SPFW preferiram o desfile de Fause Haten entre as coleções masculinas que abriram o evento. Segundo Alik Maia, da loja francesa L’Eclaireur, “os outros estavam muito simples”. “Ele soube brincar com o estereótipo do surfista”, disse Liliana Sanguino, da Kokonto Zai de Londres.

Jeans na Oca – Hoje à noite, na Oca do Ibirapuera, tem performance dirigida por José Possi Neto, com cenografia de Felipe Crescenti. Várias marcas fazem uma releitura da história do jeans. O tema é Blue Night.

Vai ser boa – Entre as marcas que preferiram música ao vivo nesta temporada, a Forum coloca amanhã Cláudio Zoli para tocar no desfile. Conforme indica o refrão impresso no convite, “a noite vai ser boa, de tudo vai rolar…”

Jóias novas – Primeiro foi Alexandre Herchcovitch. Depois Fause Haten. Agora é a vez de Ricardo Almeida lançar uma linha de jóias, que ele chama de acessórios masculinos. Há três peças de ouro-amarelo: uma abotoadura-palito, um anel duplo para segurar o nó da gravata e uma leve gargantilha.

Boliche e tênisMarcelo Sommer lança com a Le Coq Sportif um modelo de tênis inspirado no boliche e outro com versão chinelo (aberto no calcanhar). Já a Diadora, parceira do nosso campeão Guga, faz para a Cavalera uma versão fashion de tênis para tênis. Em ambos os modelos, o prata dá o tom.

London, London – Antes de sair de férias para a Inglaterra e Espanha, a apresentadora Fernanda Lima foi conferir a temporada de verão 2002. Assistiu apenas o desfile de Ricardo Almeida.

Mesa-redonda – Amanhã, às 11h, a Amni pretende reunir representantes das principais semanas de moda do mundo (Nova York, Londres, Milão e Paris) para debater os calendários de lançamento e seu impacto no varejo. A coordenação é de Paulo Borges, da SPFW.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo (colaborou Emanuela Carvalho)

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