O último dia de coleção feminina da São Paulo Fashion Week, domingo no prédio da Bienal, teve a estréia das marcas Carlota Joaquina e Trosman Churba, ao lado da apresentação concisa e consistente de Walter Rodrigues e dos fofos bebês crescidos de Marcelo Sommer.

O inverno de Walter Rodrigues é calcado na alfaiataria masculina a quem ele empresta elementos marcantes de sua trajetória, como a influência japonesa nas mangas e nos volumes das costas – apesar de o release alegar que a inspiração é peruana. Predomina o preto riscado de branco, com flashes de limão, pele e cinza. Para quebrar a suposta austeridade dos novos ternos, Rodrigues usa camisetas tatuadas, que tem versão glam salpicada de cristais, e aposta em broches femininos.

Saias rodadas, bem anos 50, vêm em risca de giz ou espinha-de-peixe sobre camadas de tule limão. A camisa, também preta, tem bordado de flores na pala – aqui um crossover do desejo de Peru do estilista com a demanda western da temporada. Bom o total look listrado em preto-e-branco.

Carlota Joaquina, desenhada por Carla Fincato, é a marca jovem da G de Gloria Coelho. Sua 1ª coleção na SPFW é urbana, moderna e conectada com o que está acontecendo no mundo. Tem como pano de fundo o personagem do livro “O Pequeno Príncipe“, com sua echarpe comprida e as estrelinhas do céu. Um telão projeta becos grafitados no bairro de Pinheiros, em SP, em textura granulada. No chão, faixas de trânsito desordenadas se cruzam obrigando os modelos a andarem num zigue-zague maluco.

A melhor estampa é justamente a de um muro pichado, criada pelo famoso grafiteiro Speto, seja em calças jeans ou em camisetas básicas que ganham personalidade quando cortam uma manga e fazem franzir o ombro com uma argola de verniz. Franjas e tranças de malha também pontuam camisetas e vestidos, como os justinhos do final, construídos em tiras tipo bandagem. Os acessórios são um capítulo à parte: “sticker” de verniz preto faz a maquiagem dos olhos ou vira tatuagem nos pés, e tornozeleiras e braceletes vêm aos pares, à la Diana Vreeland.

Sommer fez um ótimo trabalho ao transpor o mundo dos bebês para o mundo da moda, numa coleção muito fofa. O melhor resultado ficou com o redesign das calças Levi’s, da linha Engineered, que ganham botões e pespontos coloridos (pink, laranja, vermelho, turquesa) em recortes que mimetizam o abotoamento dos macacões Tip-top. O outro jeans traz trevos em jacquard.

Cada detalhe infantil é aproveitado pelo estilista. A trilha mistura Laurie Anderson com historinhas de fábulas (de discos originais de Mari Stockler, que assina a direção artística). O cobertor de berço estampado vira mantô, o lençol vira camisa com golinha redonda. Irônica, a legging de Sommer é de tricô de lã e já vem com pezinho. De repente, entra uma enorme fralda-saia e no final a gente vê que o bebê cresceu e a mãe esqueceu de lhe dar uma calça nova, do tamanho de sua perna.

Jessica Trosman e Martin Churba são 2 estilistas argentinos que estão juntos há 4 anos e pela primeira vez fazem desfile no Brasil – o mesmo que farão na temporada de NY, onde já vendem suas peças na Barney’s e na Hedra Prue, em Nolita: “A 1ª é uma meca da moda e a 2ª é superalternativa. Aqui pretendemos conquistar espaços como a Daslu, o MorumbiShopping e o Mercado Mundo Mix“, afirma Churba.

O melhor são as composições de faixas com xadrez, como a da saia de seda com top tartan bordado na frente – tudo em preto, branco e vermelho. Os plissados soltos recebem tecidos prensados e até o bordado de bolinhas depois é repintado por cima. Mas a estréia foi sofrível, prejudicada principalmente pela edição. 15 looks a menos (como o horrendo tomara-que-caia plissado) e teria ficado um boa impressão, uma vez que há uma cuidadosa e elaborada pesquisa de materiais no trabalho desta dupla que forma a grife Trosman Churba.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo (colaborou Emanuela Carvalho)

Tags:                                                                                                                  

Compartilhar