Moda atlética em Paris na primavera-verão 2003

10.10.2002

Depois do sexy explícito da temporada de Milão, com as microssaias da Gucci, a moda chega a Paris bem mais atlética. O espírito esportivo é tão forte que até a tradicional Chanel terminou seu desfile com um grupo de modelos segurando pranchas de surfe, snorkel e pé de pato. E o esporte passa obrigatoriamente pela água, como vimos também em marcas de vanguarda como Balenciaga e Helmut Lang.

O neoprene ganha neoversões e vira referência. Vem com logotipo Chanel nas costas da jaqueta esportiva, cria listras gráficas nas mangas dos casacos retos de Helmut Lang combinado à organza de cor fluo como laranja, amarelo-limão e verde-maca, e engana os olhos nas bermudas de cintura alta de Nicolas Ghesquière para a Balenciaga que, na verdade, são de um jérsei leve.

Preto e branco predominam na coleção da Chanel que está sendo lançada esta semana durante a temporada de prêt-à-porter primavera-verão 2003 em Paris. Junto com o esporte, a silhueta incorpora elementos de streetwear em volumes amplos de calças e saias que franzem a partir do quadril sugerindo uma versão mais sofisticada para o novo baggy – aquele dos anos 80 que ficou conhecido como calça brega. Pois prepare-se: o baggy vai ser muito importante na próxima estação.

E se os esportes naúticos estão na moda, o vestido preferido das meninas Chanel traz um top de biquíni que quase se junta à saia de cintura altíssima. À noite, ele ganha bordados sofisticados de efeito sal-e-pimenta. A figura forte da criadora da marca, mademoiselle Coco Chanel, é usada pelo estilista Karl Lagerfeld em tops de rede e medalhões presos a correntes de cintos e colares, em ouro ou prata.

Já Helmut Lang, que voltou a desfilar em Paris depois de ter se transferido há algumas estações para NY, foca seu olhar no surfe trabalhando a cor no neoprene, no látex fininho e em algodões emborrachados que ele compõe de várias maneiras numa única peça ou nos acessórios, de base preta ou cru. A sacola de feira vendida em camelôs nova-iorquinos se transforma em saia de xadrez tartan preta-branca-vermelha e o plástico bolha, que protege embalagens frágeis, vira jaqueta masculina.

Conhecido por seu estilo minimalista, este estilista austríaco atualiza sua silhueta longilínea e brinca com tiras abotoadas ou de zíper que criam apenas contornos de cardigãs e camisetas sobrepostos a outras peças. A estampa emborrachada das camisetas insinua a palavra “love“, mas é na verdade uma interpretação abstrata do rosto do gato Félix. Além das calças secas, Lang aposta agora em modelos que vêm no avesso, com forro e bolsos.
Esse também foi o caminho escohido pela francesa Martine Sitbon. Sua roupa vem construída no avesso, com forte influência das peças de lingerie dos anos 40/50. A brasileira Marcelle Bittar mostra um short curto com bolsos compridos e blazer sequinho, cujas costuras tem acabamento de cetim. Esses recortes anatômicos são reforçados tanto em vestidos que misturam blocos de cinza e amarelo como na jaqueta de motoqueiro rosada.

Cetim, couro e tricô predominam na coleção neopunk-motoqueira da belga Ann Demeulemeester. Em preto e branco, ela mistura o saruel-baggy com camisetas que trazem palavras como Life, Sin e Wilder, usadas por modelos de olho preto, cabelo despenteado e acessórios com lâminas de gilete. Tudo vem com tiras que se afivelam na perna da calça ou nas costas das jaquetas.

Lilian Pacce para o Estado de S.Paulo

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