Semana de Paris Outono-Inverno 2002/03

07.03.2002

A semana de prêt-à-porter de Paris começou muito bem, obrigada. Grandes momentos como os desfiles de Christian Dior e Yohji Yamamoto deram o up ao primeiro dia de uma temporada que apresenta cerca de 150 desfiles até a próxima sexta-feira. Nomes novos como a dupla da AF Vandevorst e o italiano Angelo Figus mostraram também boas coleções, assim como Enio Capasa para a Costume National.

DIOR

Christian Dior pôs toda a energia criativa de John Galliano para trabalhar de olho na caixa registradora, pronta para faturar intermitentemente as compras de sua jovem cliente – e também das antigas. Depois da viagem étnica com múltiplas referências da última temporada, a Dior foca sua coleção no artesanato latino, especialmente o Peru. Claro que ainda restam reminiscências de idéias já trabalhadas antes, como os bordados indianos de espelhinhos que aparecem nas calças de couro ou jeans. Mas a maioria dos 51 looks desfilados, cada um por uma única modelo (e as brasileiras em peso), tinha como elemento principal um elmo de gladiador feito de lã peruana e botinha baixa de pele, tipo Apache.

Coube a Gisele Bündchen, que aparece molhada com espuma de sabão na nova campanha da Dior, abrir o desfile com um microvestido de jérsei de algodão vinho bordado com dourado. O vestido blusê, com uma nova solução para o bolso canguru, aparece depois em tie-dye vermelho e laranja, usado com jaquetinha. As jaquetas podem ser tipo aviador ou com gola marinheiro, em pele bordada. Já os casacos vêm um número maior, assim como a versão sem manga – e sem costura – usada por Caroline Ribeiro, em vermelho com botões dourados. Aqui, as saias começam a cobrir o joelho e ficam franzidas, com babado na barra contrastante, seja em patchwork, seja em jacquard ou bordado. É folk, folk, folk. Uma faixa larga de malha canelada é drapeada sobre o quadril, valorizando ainda mais o babado da saia.

Em contrapartida, surgem os levíssimos e sensuais vestidos de musseline ou veludo de seda devorê – um dos poucos momentos em preto do desfile, que priorizou tons de marrom, vinho, azul e verde. O artesanato manual chega ao ápice em cardigãs compridos, construído em faixas verticais multicoloridas com direito atá a minipompons de lã. E as bolsas? Além do novo modelo que acopla várias minibolsas, a sela extragrande vem agora em pele – tudo de bom.

YOHJI

Para o outono-inverno 2002/2003, o japonês Yohji Yamamoto trabalha de novo o sportswear – um novo sportswear. E o faz com tanta intensidade e tanta personalidade que é difícil acreditar em sua força para se reinventar a cada estação, construindo a roupa de forma tão elaborada. Sua parceria com a Adidas, que rendeu os tênis mais desejados entre os fashionistas, traz agora uma versão furadinha em chuteiras de boxeador, de preferência em vinil preto e branco.

As modelos vêm com cabelo preso em touca tipo ninho-bombril e muita base na cara – o aspecto é quase andrógino e por mais que tente deixá-las feias, não consegue. O trabalho com os fartos volumes pontua todo o desfile, que abre com um amplo tailleur de couro preto, com saia grande e comprida e veste de inspiração Perfecto – os motoqueiros também são a fonte para os tênis-bota que cobrem o joelho.

Entre as muitas idéias do estilista, estão os trench-coats transformados em casaca ou romantizados com manga bufante (que vai apenas até o cotovelo e pode ser usado sobre o tricô de manga comprida). A jaqueta jeans básica fica mais acinturada ou levemente franzida, em muitas versões, e pode vir com minissaia também jeans, assimétrica e desconstruída, que se prolonga em tecido preto franzido. As parkas vêm em camadas na barra, com ou sem capuz, em oliva e cáqui, sobre tops de pele de carneiro. No tricô, o grosso cachecol preto ou tangerina vira manga e pode ser drapeado no braço ou enrolado no pescoço.

A mulher Yohji fica com cara de homem nos ternos retos e soltos, à Joseph Beuys, em mescla cinza, marinho ou marrom, com camisa branca ou azulão. Casacos de lã amplos são franzidos pelo cinto enquanto vestidos-camisas descem retos, únicos ou sobre calça de alfaiataria com barra-punho, tipo jogging. O novo anorak em cetim acolchoado, longo ou tipo jaquetinha, é arrematado nas costas com a aplicação das asas de um anjo ou as letras da palavra “love“.

MODABYTES

@ A Costume National aposta em calças justas, afuniladas, com vestes que são um mix de trench-coat com jaqueta Perfecto, que terminam com cinto marcando a cintura baixa. A alfaiataria é forte, toda ajustada, trabalhando a cintura. As lapelas vem cortadas no fio, sem acabamento, de preferência em veludo preto ou lã com fios de lurex ouro. Para os homens, blazer tipo casaca.

@ O tricô e o cetim são a base da coleção da dupla AF Vandevorst, que usa grafismos em amarelo e preto, turquesa e marrom, ocre e pink. A veste-casaca também é estrela aqui – e em muitas coleções, como estamos vendo. Só que a dupla prefere invertê-la, usando-a de trás pra frente, assim como os vestidos-camisa retos e os cintos. O melhor é que esse recurso de estilo, que a princípio soa primário e até infantil, se harmoniza muito bem na coleção.

@ Formado na escola belga da Antuérpia, o italiano Angelo Figus trouxe o surrealismo e imagens clássicas de Elsa Schiaparelli, como o sapato-chapéu, para o século 21. O bom trabalho das camisas brancas acompanha os casacos e saias em couro ou lã espinha-de-peixe, que ganham volume no viés, de preferência acinturados com rolotê do próprio tecido. Figus é um nome pra ser observado.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo

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