Exposição de designers e artesãos

29.06.2002

A próxima São Paulo Fashion Week, que lança 38 coleções para o verão 2003 entre os dias 15 e 20 no Pavilhão da Bienal, vai abordar mais uma vez a saudável discussão sobre o que é moda brasileira. Mas esse é um tema que tem despertado reflexões em todo a indústria nacional, que vive oscilando entre valorizar as tradições artesanais (e correr o risco de reforçar imagens estereotipadas como o traje típico da baiana de renda branca), e se posicionar como celeiro criativo de talentos individuais, prontos para enfrentar a concorrência internacional lado a lado com os melhores criadores de todo o mundo.

Neste cenário surge um projeto que visa conciliar esses dois mundos que mal se conhecem e raramente se comunicam – com raras exceções, como o trabalho do estilista Lino Villaventura. O resultado é a exposiçãoDesigners e Artesãos – Extratos da Moda Brasileira”, em cartaz de 4 a 31 deste mês no Senac Moda, que comemora trinta anos de existência da Marles, indústria têxtil focada em malharia.

Nela estão reunidos 16 modelos criados pelos estilistas brasileiros Walter Rodrigues, André Lima, Marúzia Fernandes, Thaís Losso, Eduardo Ferreira, Fause Haten e Renato Loureiro, e pelo francês Emmanuel Dumalle, em parceria com 12 comunidades de artesãos de vários Estados do Brasil. Coube a cada um desenvolver em malha técnicas como o bordado Richelieu, renda de bilro, renda renascença, fuxico, patchwork, pompom e amarradinho.

A curadoria é de Walter Rodrigues e ao historiador de moda João Braga coube apresentar um painel sobre a moda brasileira nos últimos 30 anos. “É muito bom ver a moda ajudar as pessoas não só dando emprego, mas também revitalizando a arte”, diz Walter, 42 anos, que já havia desenvolvido criações com rendeiras do Piauí em outra coleção (verão 2001).

Desta vez, Walter trabalhou com bordadeiras de ponto cruz do interior do Ceará, que tiveram que trocar a chamada base dura, geralmente de algodão, por uma malha furadinha. O desenho reproduz uma espécie de mandala usada em quatro chacras: “Minha pesquisa está centrada em túnicas de proteção usadas por tribos da região do Irã e Paquistão. Achei divertida a idéia de acrescentar à roupa um valor de religiosidade, que é o que as pessoas estão procurando hoje”.

Thaís Losso, da grife Cavalera, realiza pela 1ª vez um trabalho comunitário. Ela se juntou aos artesãos da comunidade Cupuaçu, de São Paulo, especializada em bordados de miçanga e no folclore da dança Bumba-meu-boi. “Pedi para eles bordarem o que quisessem: anjinhos, fogueira, crianças, em peças de malha preta com capuz”, conta Thaís, de 27 anos. “Houve uma troca de idéias muito bacana, a gente acabou criando junto”. A estilista ficou tão satisfeita que desenvolveu peças especiais para a coleção de verão da Cavalera, que ela apresenta dia 19 na SPFW.

A Marles, que produz 120 toneladas por mês e teve um faturamento de R$ 18 milhões em 2001, pretende com isso desenvolver uma tecnologia em malharia com o conceito do labirinto, da renda de bilro, do crochê e do bordado Richelieu. O projeto teve início em janeiro e daqui a exposição segue para Lyon, na França, onde será exibida em setembro. Todo o material registrado ao longo desse período está sendo editado em um livro que será distribuído às escolas de moda de todo o Brasil.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo

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