No princípio era o verbo. Então dá pra entender porque foi das palavras que saíram as imagens que Erika Ikezili criou para seu outono-inverno 2010. E também porque as obras do artista plástico Fred Eerdekens (que mistura as 2 formas de linguagem) serviram de inspiração para ela – daí as letras penduradas nas blusas e vestidos cor de pêssego, lá pela metade do desfile.
A estilista mandou passarela adentro um remix de várias silhuetas, quase sempre sobrepostas: o comprimento longo das saias que sobrepõem os vestidos/anágua (de um tule de seda plissado, bem bonito) são dos 20’s, mas os ombros das mangas bufantes e daquelas feitas a partir de uma dobradura pontuda são, definitivamente, dos 80’s – Grace Jones, na trilha sonora, só confirmou.
Fez bem Erika Ikezili de usar seu conhecimento técnico em modelagem, sempre explorado numa pegada japonista, para a (des)construção do paletó de alfaiataria. Esse apareceu de mil e uma maneiras; com camadas, assimétrico, interferência de tecidos e sempre alongado, com a cintura lá embaixo.
Fez bem também em investir numa construção têxtil só sua, feita de uma gaze de trama aberta com aplicação de lã branca e bordô que gerou um efeito interessante – mas, é preciso dizer, o fator desejo apareceu realmente com os acessórios, carregados de correntes e tachas com e sem alças. Uma coleção pra quem quer vender. Que bom, né?
(Antonia Petta)
