Ocimar Versolato na Casa de Criadores

26.06.2001

Entre sábado e segunda no Estádio do Pacaembu, 13 desfiles primavera-verão 2001/2002 marcaram a nova fase da Semana de Moda – Casa de Criadores, que passa a lançar as coleções de jovens estilistas antes da São Paulo Fashion Week. Com a antecipação, os novos estilistas têm mais chance de comercializar seus modelos e de se viabilizar como negócio já que no início da temporada o budget dos compradores ainda não está comprometido com as marcas maiores. Até os novíssimos do projeto Lab, que se apresentaram na sexta, passam a ter mais chance no mercado – aliás, eles merecem.

A participação de um estilista veterano como Ocimar Versolato, que foi o 1º brasileiro a participar do calendário de moda de Paris e agora voltou a morar no Brasil, deu o que falar. No 1º dia, falar mal, já que o estilista começou o desfile da linha O. V., de jeanswear, com 3 horas de atraso e uma coleção instável, com entradas de gosto duvidoso. No último dia, falar bem, pois foi a vez de Ocimar mostrar sua coleção couture, com o trabalho de tecidos fluidos que ele sabe construir tão bem, como o vestido estruturado em formas de losango. Suas 30 roupas de festa vieram basicamente em preto, em organza, chifom e cetim, assimétricos e esvoaçantes. Um quadrado vazado de ouro foi o link para juntar tecidos diferentes na mesma peça e também as 2 coleções. Na O . V., o quadrado arremata bolsos-cargo das calças jeans, que vêm em cores novas como marrom e furta-cor. A proposta de jeans de cintura alta vazada no quadril, que insiste em revelar as estrias até dos modelos, não funciona nem estética nem estruturalmente. Na O . V., Ocimar se sai bem quando trabalha cores suaves e tops de malhas leves, como o usado por Mariana Weickert. Mas esqueça os homens. Eles parecem bofinhos nouveau riche sem classe.

Apesar de ter se prejudicado com o atraso de Ocimar no sábado, Mareu Nitschke conseguiu arrancar aplausos da platéia à meia-noite. Sua mulher é uma guerreira de sonho, fetichista light. Vestidos em camadas de musseline branca, com franzidos estratégicos, são mapeados por grandes argolas de metal e cristais. Acessórios de inspiração sadomasô trocam o couro pela madeira e ganham outro look. O streetwear entra no clima de alta-costura nos jeans desbotados e corselets.

Lorenzo Merlino, que nas últimas temporadas fazia desfile independente, fez uma ótima rentrée na Semana. A coleção está mais feminina, a silhueta é seca e tudo é bem curtinho: as saias, os macaquinhos, os shorts e até os blazers, que viram minivestidos. Imagens figurativas saem do universo de Elsa Schiaparelli (grande nome da moda, principalmente nos anos 30) para se transformarem em bordados e estampas, como o sol e os insetos. Bom o trompe l’oeil da saia de cintura baixa sobre body com cinto alto.

A grande revelação é o jovem Eduardo Inagaki, de 22 anos, formado pela Santa Marcelina e ex-assistente de Walter Rodrigues. Inagaki também buscou inspiração em Schiaparelli. Fez mãozinhas de acrílico divertidas interferindo na roupa e uma de suas melhores estampas é a versão gestáltica de seu signo, Gêmeos. Suas formas são volumosas e não economizam tecido (apesar de ele não ter nenhum patrocinador ainda) em franzidos fartos.

Jotta Sybbalena cresce nesta estação. As referências heavy metal continuam (as estampas de bandas como Iron Maiden, por exemplo), mas ele tirou um peso de sua coleção, dando aos modelos mais frescor e alegria de viver. Tudo está mais suave e com acabamento melhor: das roupas de couro até as labaredas, que são sua marca registrada, passando pelos tops de pluminha. Os sapatos mantêm o estilo Jotta mas passam a ter cara de sapatos feitos para andar e não só para serem vistos.

Inspirado no projeto “Êxodos”, do fotógrafo Sebastião Salgado, Jum Nakao transforma seus modelos em andarilhos chics de atitude quase protestante. O desfile começa com marrom e rosa, passa pelo preto avermelhado e chega ao que ele chama de “pureza do branco”. Com camisaria e alfaiataria impecáveis (como os blazers-cartucheira, vazados), em bom padrão risca de giz, Jum traz um coleção consistente, comercial e conceitualmente.

Gisele Nasser foi outro destaque. Marlene Dietrich no filme “Expresso de Shangai” é sua musa inspiradora, o que se traduz em tops transpassados, como o das chinesas, de recortes circulares com acabamento em rolotê. A forma se desdobra e chega ao Ocidente, em versão século 21, no top de tiras onduladas usado sobre body preto, com calça comprida, sempre evidenciando a cintura. Maruzia Fernandes leva nosso olhar para o oceano e seus habitantes. Dentro desse universo, ela cria estampas, texturas e efeitos holográficos que remetem a escamas, espinhas de peixe e ondas do mar. Sua mulher brinca de sereia, sensual e longilínea, em tons de azul, verde, vermelho e prata – como suas jóias. Marcelo Quadros veio com modelos para moças debutantes que começam a freqüentar jantares e coquetéis. Elegeu o rosa e o vermelho para seus vestidos de seda e cetim. Já a Viva La Raza, de Fernando Sommer, passeia com seu espírito étnico pelo Mongólia e pela Índia.

Apenas 2 estilistas se concentram em coleções masculinas e ambos se saem muito bem. Rodrigo Fraga, irmão do Ronaldo, bota seus cachorros para fora em mil versões pop de estampas, numa roupa descontraída e bem feita. Já Giuliano Menegazzo troca o streetwear que fazia para a Slam (que ele vendeu) pela alfaiataria de sua nova Giuliano, misturando a rebeldia punk com clássicos colegiais e smokings sofisticados, num mix contemporâneo. Se o sonho de Giuliano é fazer alta-costura masculina, ótimo. O espaço existe e talento, ele tem.

Lilian Pacce para O Estado de S.Paulo (colaborou Emanuela Carvalho)

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