Balanço do SPFW N48: mais inclusão, mais moda!

20.10.2019

Isaac Silva verão 2019/2020

Achei bem interessante essa edição N48, mais enxuta, do São Paulo Fashion Week. O evento trouxe algumas ações concretas de inclusão, que vão além do discurso vazio que se pratica tanto por aí, não só na moda como também em outros setores. Inclusão racial, de gênero e de pessoas com deficiência (fica ligado no meu vlog mostrando como foi narrar um desfile para cegos!). Mas não foi só isso. Minha sensação é que esses tempos nebulosos que estamos vivendo provocaram um trabalho mais profundo e elaborado da maioria dos estilistas – vi muita coisa boa, vi muita gente evoluindo.

O “fashion moment” ficou com a estreia de Isaac Silva, estilista baiano, negro e gay, egresso da Casa de Criadores, que contemplou a turma toda e mais um pouco, sem preconceito reverso. Não quero ficar descrevendo roupas, mas alguma coisa eu preciso contar pra vocês entenderem o clima. A passarela era ladeada por uma fileira de arruda e sal grosso (pra proteger contra mau olhado), toda roupa era branca (como cantado na trilha com música de Adriana Calcanhoto, com bordados richelieu e de búzios, todos já à venda na loja dele) e quase toda pele era preta – magra, grande, gorda, pequena -, desfilando e assistindo. Parecia concurso com torcida vibrando, gritando e aplaudindo. Era o público negro sendo reconhecido e se reconhecendo. Como diz Isaac, acredite no seu axé!

Cavalera primavera-verão 2019/20

Com a mesma pegada e energia foi a apresentação da Cavalera. O proprietário Turco Louco foi direto à fonte e chamou a dupla Leo Bronks e Emerson Timba (stylists de Kevinho e outros) pra criar a coleção streetwear da passarela, que será vendida na flagship da marca nos Jardins, em SP, e sob encomenda. Foi um show de moda rua de verdade, com direito a ambulantes vendendo água, e toda diversidade urbana na passarela, sob o olhar do prefeito Bruno Covas.

Angela Brito verão 2019/20

Em proporção bem menor, tivemos a estreia da cabo-verdiana Angela Brito. Enquanto Isaac exalta explicitamente a cultura e o orgulho afro, Angela não faz uso do discurso do propósito. Simplesmente faz roupa, faz moda e quer seu espaço. E ambas as posturas merecem respeito. Assim como João Pimenta, numa de suas melhores coleções, exaltando (e resgatando?) o lesbian chic, com a trilha de GA31 (pronuncia-se Gabi) com letras como “felizmente continuo sapatona”, pra deixar tudo bem claro. Manifestações à parte, a alfaiataria dele estava forte e interessante!

João Pimenta inverno 2020

A alfaiataria foi ponto alto em vários momentos: além de João Pimenta, na coleção de Gloria Coelho com seu olhar de realismo fantástico-futurista e peças que se sustentam por muitos anos tamanha sua qualidade. Também com Reinaldo Lourenço num mix punk-vitoriano, na Modem e na Neriage – ambas mais maduras e reais-, na Apartamento 03 e sua  poética homenagem a Kazuo Ohno e ao butô.

O inverno 2020 de Reinaldo Lourenço, Fernanda Yamamoto e Gloria Coelho (da esq. pra dir.)

Falta falar da sacada multimídia da Another Place, do romântico upcycling japonista de Fernanda Yamamoto (com Chico César ao vivo), do slow fashion da Beira, e de muito mais. Mas aqui vão minhas primeiras impressões (e aqui sobre o desfile da Ellus, que abriu a temporada). Vi moda no SPFW, que não seria nada sem o talento e empenho de seus participantes.

Aqui looks da Neriage, Another Place e Apartamento 03 (da esq. pra dir.)

Fotos: Agência Fotosite

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