Abertura do SPFW primavera-verão 2006 – O verão à vista, dez anos depois

24.06.2005

O superlativo toma conta da edição primavera-verão 2005/06 que comemora 10 anos do SPFW. De amanhã até 4 de julho, 52 desfiles – um recorde no calendário do evento – vão mostrar tendências de moda feminina e masculina, jeanswear, sportswear e moda praia (a cereja do bolo nas edições de verão), que chegam às lojas a partir de setembro. Essa organização de um calendário brasileiro de desfiles começou em 1996, sob o nome de MorumbiFashion, com 31 marcas. Uma década mais tarde, o projeto capitaneado por Paulo Borges se consolida no planeta fashion e começa a ser considerado a 5ª semana de moda mais importante do circuito, que vai de NY a Londres, depois passa por Milão e Paris.

Algumas novidades ajudam a criar notícias e colocar a moda cada vez mais na moda: nesta temporada, a festejada dupla anglo-brasileira Basso & Brooke apresenta sua coleção como marca convidada, repetindo o convite da SPFW feito a outras marcas estrangeiras como a argentina Trosman Churba e a espanhola Custo Barcelona. Bruno Basso é santista e Chris Brooke, inglês. Eles ganharam em setembro passado o prêmio britânico Fashion Fringe para jovens talentos de moda, no valor de 100 mil libras. A estampa digital é marca registrada e o desfile de estréia levou desenhos de órgãos sexuais em estilo erótico-nouveau à passarela. Aqui, eles mostram uma prévia do que será lançado emLondres em setembro. O tema é vaidade e o poodle é o mascote que personifica a coleção.

Outro brasileiro pouco conhecido dos brasileiros mas reverenciado no mundo todo é o fotógrafo Otto Stupakoff, radicado nos EUA desde 1965. 80 de suas imagens que já rechearam as páginas das revistas “Life”, “Vogue”, “Harper’s Baazar” e outras internacionais foram escolhidas à lupa por Bob Wolfenson e Fernando Laszlo. A exposiçãoModa Sem Fronteiras – Otto Stupakoff: 55-05” cobre 50 anos de carreira deste paulistano conhecido como o pai da fotografia de moda no Brasil e que hoje se dedica mais à pintura e à colagem. As imagens trazem editoriais de moda e retratos de celebridades como o ator Jack Nicholson, o cantor e compositor Tom Jobim e o presidente americano Richard Nixon.

A Patachou também lança mão de uma brasileira “exilada” no exterior. Quem assina a direção de arte do desfile é a designer Lena Pessoa, que mora há anos em Paris e é responsável pelo projeto das lojas Pucci e Jimmy Choo em todo o mundo, além de colaborar para a Louis Vuitton e Givenchy.

Para se destacar no volume de informação de moda respirado nos próximos 7 dias, as marcas buscam estratégias diferenciadas para conquistar seu lugar ao sol. Na temporada anterior funcionou bem a tática de adotar um cenário fora dos domínios do Ibirapuera (como o desfile da Raia de Goeye no Teatro Municipal). Para esta edição, Pedro Lourenço elegeu a galeria Euroarte, nos Jardins, Reinaldo Lourenço volta à Faap, Isabela Capeto desfila no MAM entre obras do artista Andy Warhol e a V.Rom vai levar o povo da moda para dentro do Estádio do Pacaembu, com direito a revival de uniformes de futebol.

Em clima de retrospectiva, o estilista Ricardo Almeida mantém a tradição de abrir a semana e vai relembrar seus momentos celebridade trazendo personalidades que passaram por sua passarela ou por seu ateliê como os atores Raul Cortez, Rodrigo Santoro e Fábio Assunção, os apresentadores Luciano Huck e Serginho Groisman e os fotógrafos Gui Paganini e Bob Wolfenson, além do cantor Seu Jorge que abre o desfile ao lado do próprio Paulo Borges. Pela primeira vez a Cavalera separa a coleção masculina e feminina em dois desfiles – ambos inspirados na cultura popular e nas tradições nordestinas, da culinária à religião.

A princípio a supermodelo Gisele Bündchen, que deu seus passos de gazela no Fashion Rio e partiu pra China para fotografar a capa da 1ª edição da “Vogue” chinesa, não virá. Mas há um batalhão de beldades brasileiras de extremo sucesso lá fora como Michelle Alves, Carol Trentini, Jeísa Chiminazzo, Caroline Ribeiro, Isabeli Fontana e Alessandra Ambrósio. Alguns ainda vão mais longe. Na cola da comemoração de dez anos de SPFW, a marca de moda praia Cia Marítima, que comemora 15 anos de vida, vai reunir modelos de várias temporadas, como Isabella Fiorentino e Cássia Ávila (2 tops que participaram da 1ª edição do evento) pra desfilar seus biquínis.

Vale tanto usar recursos artesanais quanto tecnológicos – ou mesmo os dois juntos -, para expressar seus conceitos: a Zoomp importou um cubo de cristal líquido, batizado de eurodisplay, onde vai projetar imagens de sua coleção, enquanto a Zapping vai utilizar o mesmo aparelho para apresentar imagens em preto e branco. A marca masculina VR alinhavou uma coleção que faz referência ao escapismo tecnológico. Em parceria com a Sony, vai colocar na passarela aparelhos de última geração que funcionam como válvula de escape para o homem urbano. O artesanal mostra que tem fôlego para dominar a moda por muitas temporadas. A Neon vai arrematar a sua moda com fortes influências dos anos 80, com jóias assinadas pela designer e ícone da moda Christine Yufon. Os acessórios confeccionados em madeira brasileira têm proporções gigantes e reforçam a dramaticidade da roupa desenhada por Dudu Bertholini e Rita Comparato, como você nesta página. Outro resgate artesanal vem de Valdemar Iódice, influenciado pela mania folk e por uma moda mais delicada. Utilizando a chamada técnica de agulha mágica, sua coleção de verão traz aplicações de paetês e canutilhos em tecidos fluidos como seda e georgete. Ainda de apelo artesanal, o mineiro Ronaldo Fraga vai realizar uma homenagem ao universo das costureiras que vivem o sonho das grandes festas apenas dentro do ateliê e batizou sua coleção de Descosturando Nilza.

Lilian Pacce (colaborou Ailton Pimentel)

Tags:                                                                                                                                                                                                        

Compartilhar