Ponto Firme traz uma estética periférica pro holofote do SPFW

21.04.2018

Tudo começou em 2015, quando uma pastoral de uma igreja chegou no estilista Gustavo Silvestre e perguntou se ele queria dar aulas de crochê na penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos (SP). Na época o projeto “Mãos do Meu Brasil”, da Chiara Gadaleta, tinha acabado e ele estava sentindo falta desse lado social. Gustavo então organizou um outro projeto voltado pra educação e começou despretensiosamente, com 11 agulhas doadas – portanto 11 alunos – e restos de linha. Mas se no começo ele fugiu da moda no Ponto Firme com tapetes, redes e amigurumis (aqueles bonecos com formas redondas), a moda mesmo assim começou a aparecer. Uma regata, o boné que alguns dos presidiários já desenvolviam… 

A coisa foi se desenvolvendo de tal forma que surgiu a ideia de um desfile – primeiro pros próprios detentos, dentro da cadeia, e depois no SPFW. Agora as peças devem ser expostas no Museu da Resistência de São Paulo, entidade ligada à Pinacoteca, mas não podem ser vendidas porque esse tipo de projeto educacional no sistema penitenciário não permite veiculação com o comércio. Mas eles contam com o apoio da prefeitura de Guarulhos pra organizar uma cooperativa entre os próprios presos, que pode sair do papel até o final do ano! Seria incrível: as peças são muito interessantes! E se existem outros projetos parecidos que capacitam detentos, eles são mais ligados ao uso da mão-de-obra seguindo orientações. Também é bacana, mas nenhum dá a eles o poder de criar o que quiserem como o Ponto Firme. Vai daí que surgem preciosidades como as reproduções de marcas famosas como Adidas, Hang Loose, Oakley e Ecko em chapéus e bolsas; e as jaquetas customizadas com faixas. 

Um projeto “primo”, o Pano Social, que emprega ex-detentos e os reinsere na sociedade, ajuda no mix de produtos com peças em tecido plano – a calça que ganha faixa lateral de crochê é ótima. A estampa dos escritos deles nos camisetões emociona, assim como o texto declamado pela slammer Luedji Luna. A presença de Tasha e Tracie Okereke na passarela inspira (o casting traz bastante negros, aliás). E a mania nacional, o futebol, aparece tanto no crochê quanto no silk com brasões de diversos times. Mais destaque? Os looks que são a cara de Gustavo, vestidos de crochê desenvolvido em moulage, sem receita, que ele ensinou pros seus alunos que já passam de 120 – atualmente 19 seguem pontas firmes no Ponto Firme. Vida longa!

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