O dia do algodão na Casa de Criadores

30.11.2018

O trabalho do Sou de Algodão é incentivar o uso da fibra na cadeia têxtil. Na Casa de Criadores, especialmente, a troca é vantajosa pra ambos os lados: o evento traz sua aura fashion de vanguarda pro material e o movimento da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) fomenta o trabalho desses estilistas independentes. Nessa 44ª edição, na qual a Sou de Algodão é patrocinadora master, ela assina uma noite inteira, com estilistas que são destaque no evento (Renata Buzzo, Igor Dadona, Isaac Silva e Rober Dognani) mostrando como o algodão é um material versátil, moderno, arrojado. As 4 coleções apresentadas são muito interessantes, cada uma à sua maneira.

Mas antes disso também rolou um desfile coletivo no começo da noite, no qual outros estilistas do line-up da Casa também puderam mostrar sua moda em um look de algodão associando-se com marcas parceiras. Esse contou com Gaby Amarantos cantando durante a apresentação e styling de Gustavo Silvestre, com um casting superinclusivo!

Veja também: fomos visitar uma plantação de algodão! Vem com a gente!

E vamos começar por Igor Dadona: a coleção é uma boa sequência da anterior. O estilista explica que, no seu ritmo de produção, que é bem manual, ele prefere apresentar algo que converse, tipo uma coleção anual dividida em duas partes, pra que elas não se atropelem. Ou seja: voltam as pinturas pop em tecido do Luan Zumbi, os bordados da Giu Couture, os recortes coloridos. A moda de Igor também está mais oversized, uma roupa que é estilosa mas confortável, ideal pra geração que curte assistir Netflix e jogar videogame e às vezes (ou sempre?) dispensa a balada pra ficar em casa. E, claro: tudo algodão, pelo menos em 70% da composição, aqui e nos outros desfiles.

Renata Buzzo é mais autobiográfica ainda – seus trabalhos sempre remetem a algo que a sensibiliza, mas dessa vez a coisa fica em família. Seus avós paternos, que morreram em 2011, são o ponto de partida. Mas não pense que a coleção é fofinha, uma ideia de terceira idade romantizada… Eles eram, digamos, do rolê! “Ela negra, ele de origem italiana, saíram fugidos pra casar. Ele era do tipo empreendedor, que conseguia vender areia na praia; já ela era acumuladora de roupas, e ambos com gênio muito forte, coisa que herdei”, Renata explica. Pra você ter uma ideia, a trilha sonora começa com a música clássica de “O Poderoso Chefão“! Entram os modelos de óculos escuros (parceria com a Moon Eyewear que leva caroço de algodão na sua composição, sustentável, vegano como Buzzo exige e very cool), looks com upcycling cheio de textura de pedacinhos de ourelas (“que são os resíduos de corte, os rejeitados, o que fica à margem”, a estilista conta), bolsas com um vazado que representa o vazio deixado por eles. Ah, e as etiquetas: a avó usava as roupas sem tirar as etiquetas porque depois as vendia, dizendo que eram novas!

Confira nesse link: o desfile de João Pimenta no SPFW também foi inteiro de algodão!

Se em Renata as etiquetas aparecem e em Igor também pintam etiquetonas aparentes do lado de fora da roupa, no desfile de Rober Dognani esse lado de backstage, de “quem faz suas roupas”, aparece em performance divertida que ganha grande destaque no balanço da noite. É uma homenagem a estilistas que já morreram: Maria Cândida Sarmento (Maria Bonita), Conrado Segreto, Ney Galvão, Zuzu Angel, Clodovil Hernandez, Denner Pamplona, Clô Orozco (Huis Clos), Markito, Ocimar Versolato, Guilherme Guimarães. A história: eles se encontraram no céu e decidiram fazer uma coleção coletiva inspirada no Carnaval brasileiro! Só que Rober decidiu mostrar essa narrativa de maneira bem literal: entram estilistas que ele foi buscar na rua das noivas e em lojas de tecido da 25 de Março e outros endereços, caracterizados como esses ícones, de jaleco branco e acompanhados de lindas como Alessandra Berriel, Marina Dias, Johnny Luxo e Geanine Marques em looks-moulage de tela, um algodão cru usado pra modelar a roupa antes dela ser cortada com o tecido final. É como se os estilistas estivessem trabalhando em cima deles, com pespontos, vivos, riscas, prendedores. A imagem é ao mesmo tempo dramática, com a ajuda das cabeças de Davi Ramos simulando alfineteiros nas modelos, e leve! E aí começa o desfile em si, os looks que vieram dessas modelagens, em algodão resinado, se referindo a personagens do Carnaval: pierrô, colombina, arlequim, palhaço… Um verdadeiro show. Será que o público mais jovem catou tudo? Provavelmente não – mandem esse texto pra eles!

A noite termina em muito axé com Isaac Silva e seu agradecimento por todas as graças a ele concedidas até agora pras Yabás, as Orixás femininas. “Primeiro que temos histórias lindas nessa cultura nas quais a gente não se aprofunda; sabemos as histórias de Afrodite mas não sabemos as de Iansã, Iemanjá, Nanã e Oxum. E os Orixás masculinos temem as Yabás, elas são poderosíssimas!”, diz Isaac, um pouco antes do desfile começar. O desfile se divide em blocos, cada um dedicado a uma dessas Orixás supracitadas com ícones delas e suas respectivas cores; destaque pros vestidos com um trabalho de patchwork representando figurativamente cada uma delas. Ah: e é tudo de tecelagem brasileira! “A Sou de Algodão abriu a agenda deles e disse: esses são os fornecedores do país. Aproveitei, né?”, o estilista lembra.

Gostou do trabalho deles, que você vê na galeria? Quer ser o próximo a desfilar na Casa de Criadores? As inscrições pro 1º Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores estão abertas! Você precisa ser um aluno matriculado em faculdade que tenha cumprido pelo menos 50% das disciplinas obrigatórias nos cursos de moda, estilo e/ou negócios de moda, e áreas afins, como design, em faculdades e instituições brasileiras de ensino superior reconhecidas pelo MEC (Ministério da Educação). E os trabalhos inscritos no concurso precisam ter, no mínimo, 70% de algodão na composição têxtil. É a sua oportunidade de mostrar sua moda na passarela da CdC! Você ainda tem um tempinho (até 3/03/2019) pra se inscrever no site oficial – é lá, também, que você encontra mais informações! 

Esse post é patrocinado pelo movimento Sou de Algodão – saiba mais sobre ele nesse link

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