Marc Jacobs outono-inverno 2016/17

19.02.2016

A moda está se transformando, e 2016 promete entrar pra história como o ano em que o “compre imediatamente após o desfile” de fato se concretizou nas mais diversas marcas (algumas já o faziam antes, mas ainda eram propostas isoladas). Isso acarretou em uma Semana de Moda de NY de outono-inverno 2016/17 que a crítica especializada tem apontado como reducionista, entediante, sem o frisson que o mundo fashion gosta tanto de sentir (e que é tão difícil de gerar a cada 6 meses).

Ou seja: com a vontade de vender o que se desfila de bate-pronto e, ao mesmo tempo, o medo do risco dessa estratégia, perde-se o encanto, o aspiracional. Aposta-se no seguro, que é o óbvio. E será que isso é mesmo seguro a longo prazo? Quem salva são marcas que continuam apostando no incomum, na autenticidade de sua passarela. O “diferentão” – e não o que as pessoas já sabem que querem. Sem isso, um desfile não vale muito, mesmo – não vale coisa alguma, é “esquecível”. Ver um desfile que vale hoje é mais que bom – é um alívio! É um fôlego pra esperança fashionista. São dessa turma Rodarte, Alexander Wang, Delpozo e, claro, Marc Jacobs, que fecha a temporada nova-iorquina com pompa, circunstância – e Lady Gaga na passarela!

Marc chegou num momento em que seu universo criativo já é tão bem fundado e fomentado que ele se permite revisitar ideias e misturá-las, reforçando ainda mais a imagem de sua marca – que, ultimamente, sofreu algumas “quedas” com a extinção da Marc by Marc e a saída do sócio-parceiro de longa data Robert Duffy. Também parece se aproximar cada vez mais da moda festa das plumas e paetês (mas sempre com um twist diferente, por exemplo em remix com itens mais informais). Nesse outono-inverno 2016/17, ele joga com o gótico, o preto, o art deco, o grunge, o oversize. E ainda traz elementos que não tem a ver com esse time, como a bota anos 70 de plataforma e cadarço, a estampa de gatos e ratos (obra do artista Stephen Tashjian, que também é conhecido como a drag queen Tabboo), o poá (da dupla dos anos 80 Strawberry Switchblade? De Yayoi Kusama? Do seu próprio outono-inverno 2011/12?). As plumas pretas conversam com a banda Kiss, com Delphine Seyrig em “Ano Passado em Marienbad” (megareferência do estilista), com a última coleção que Marc fez pra Louis Vuitton. Os detalhes em crochê de vovó, o bordado inglês, os arabescos, a transparência, o quadriculado – tudo já apareceu antes mas tudo aparece com nova energia, novo ar.

E é do novo que o ciclo da moda se alimenta. Vender é uma desejada consequência, e não o meio.

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