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À La Garçonne abril 2016

27.04.2016

Pra começo de conversa: a direção criativa é de Fabio Souza, com o estilista Alexandre Herchcovitch trabalhando aqui como já trabalhou pra Rosa Chá, Cori, Zoomp… Claro que também é diferente: os dois são casados! Mas é irresistível a tentação de olhar pro desfile da À La Garçonne como se fosse um desfile da marca própria de Alexandre, ainda mais porque ele acabou de sair dela!

E claro que dá pra reconhecer o trabalho do estilista, mesmo porque Fabio e Alexandre têm gostos em comum. O xadrez, a risca de giz, detalhes da modelagem, a sobreposição de vestidos-camiseta (look 19), o uso do neoprene na roupa mais estruturada mas nada sportswear, a renda de cor acesa… Mas a gente pode apontar diferenças, também, e essas são as mais instigantes, a começar pelas novas simbologias (que, importante salientar, À La Garçonne já trazia consigo): sai a caveira e entra um náutico retrô com caravelas, cordas, âncora e escafandrista. Ou será que debaixo do escafandro ainda existe uma caveira? Algumas peças vintage são pintadas à mão pelo artista José Munhoz, outras peças são feitas em tecido vintage (portanto já vão em direção de um volume de produção muito menor e mais exclusivo), e não é só o upcycle que ganha vez: pintam materiais novos porém sustentáveis como a lona de algodão reciclada. E materiais alternativos? Presente: um bom resumo de tudo é o look 18, da linda Camila Ribeiro, com uma regata bem bacana feita de punho de lã mais jaqueta perfecto vintage customizada com cordas pintadas à mão e uma calça dessa lona de algodão reciclada que recebe uma calça smoking de veludo de algodão por cima!

Alexandre já trabalhou com tecidos reciclados antes, mas dessa vez o discurso da sustentabilidade está mais embuído na coleção como um todo e na ideia da “nova” marca – e tem tudo a ver com a história da À La Garçonne, que começou como um brechó, virou antiquário de móveis e objetos de decoração e hoje se transforma num mix disso tudo, ainda com o crivo do bom gosto de Fabio. Ao mesmo tempo, o eco não vira necessariamente uma frondosa bandeira: simplesmente faz parte do modus operandi e não é tema figurativo. A plateia, que aguardou cerca de uma hora e meia de atraso pro desfile começar, talvez estivesse esperando algo pirotécnico, espetacular – e a gente confessa, nós também queríamos ser atingidos por uma imagem de moda impactante nessa estreia. Mas em terra de espetáculo, o discurso limpo, coeso e com roupa boa é o caminho mais interessante pra dizer que o conteúdo se basta, sem subterfúgios. (Jorge Wakabara)

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