Duas personalidades japonesas que conseguiram entrar na imaginação ocidental – uma mais e outra menos – são o ponto de partida dessa apresentação de primavera-verão 2018 da Kenzo dividida em dois atos, um da linha masculina e outro da feminina. Um é Ryuichi Sakamoto, que recentemente se apresentou ao vivo em SP a convite da Japan House: ele junta mainstream (quem nunca ouviu “Merry Christmas Mr Lawrence“?) com o cult (é um dos integrantes da pioneira Yellow Magic Orchestra, banda de música eletrônica) e por si só foi e é um homem superestiloso. Aqui ele é traduzido em alfaiataria, listras, calça com pregas, florais, cores fortes e grafismos (muito presentes na comunicação visual original da YMO) e até em estampas com o seu próprio rosto.
Já a outra é uma supermodelo japonesa que hoje em dia é pouco lembrada – ela ganhou uma exposição no Museu de Arte Contemporânea de Tóquio em 2015 que não repercutiu desse lado do globo, apesar da sua proporção (grande) e do impacto da sua inspiração (idem). Sayoko Yamaguchi não só trabalhou com o fundador dessa marca, Kenzo Takada, como fez trabalhos incríveis com a Shiseido e o fotógrafo surreal-etéreo Serge Lutens. De tão musa, acabou ultrapassando essa condição. Do catálogo dessa exposição: “Capaz de vestir qualquer coisa, Sayoko considerava o ato de se vestir como uma resposta física, e uma colaboração, com o mundo exterior. Ela vestiria imagens, espaços… Em seus últimos anos, ela inclusive reforçou que seu coração vestia seu corpo, e pra ela o termo ‘vestir’ era sinônimo a ‘existir'”. Com veia artística e vontade de criar, Sayoko assinou figurinos, fez parcerias com artistas e virou, ela mesma, uma artista performática que usava sua própria figura como parte do suporte. Morreu em 2007. No desfile, o que parece é que Carol Lim e Humberto Leon fazem mais que homenagem: as modelos são maquiadas e tem os seus cabelos arrumados à semelhança de Sayoko, e as roupas seriam uma atualização do que ela poderia vestir hoje. Veja mais na galeria!
