Fernanda Yamamoto outono-inverno 2017

25.10.2016

Quando você vai a um desfile da Fernanda Yamamoto, você não espera: 1. algo simples e supercomercial, 2. propostas tipo tendências pra usar já (embora elas às vezes apareçam, caso das transparências de agora). Então o caminho lógico é que ela não se submeta às novas regras do see-now buy-now: “Não existe certo ou errado, cada um tem que encontrar um caminho. Mas não tenho interesse nesse esquema. O jeito que a gente trabalha requer tempo pra amadurecer, transformar o desfile na coleção que você encontra na loja. Então, essa coleção é de outono-inverno 2017“.

E é uma coleção bem invernal, mesmo, com dois pés no japonismo à Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo (o que, surpreendentemente, não é comum como as pessoas pensariam no trabalho da Fernanda). Como a estilista queria muito fazer um desfile na Estação Pinacoteca, o lugar veio antes – a partir daí, ela começou a pensar no olho que percorre o corpo (assim como em uma exposição), num fio condutor (assim como numa curadoria de uma mostra). A risca de giz aqui é uma “falsa” risca – ela pula, contorce, segue seus próprios caminhos, feita de fio de nylon encapado com linha. Com a ajuda de Fernando Jeon, ela investigou a alfaiataria clássica masculina, porém desconstruindo-a, expondo a estrutura das peças. Outro exemplo dessa exposição é o uso do crinol, que é invisível na crinolina que arma a saia e aqui aparece como um dos materiais principais.

Tem um outro material, na verdade resultado de uma reunião de ourelas de outros tecidos que seriam descartadas (ourela é a barra da fazenda do tecido), que expõe esse lado do ateliê – desenvolvimento em conjunto com Augustina Comas. Na linha colaborações: Natália Rios ajuda com os bordados feitos de materiais inusitados, como ruelas e borrachinhas. Outro momento que se destaca é o das peças com ondas de diferentes materiais, incluindo uma renda renascença feita com cordão de couro. Tudo rico, intenso, artsy. E de encher os olhos – coisa que nem sempre acontece num desfile see-now buy-now… (Jorge Wakabara)

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