A união entre a Cravo e Canela e a diretora criativa Fabia Bercsek é do tipo casamento feliz: as duas têm pontos em comum (o universo do folk e essa vontade de criar pra uma menina-mulher de personalidade forte, com nuances misteriosas entre fragilidade e força) e coisas a acrescentar uma a outra (no caso da marca, o seu lado de varejo; no caso de Fabia, os seus processos criativos). E esse desfile de outono-inverno 2016 é quase que uma demonstração de como esse casamento funciona: dessa vez Fabia optou por mostrar uma parte dos acessórios da marca em si nos pés (e nas pernas, no caso das cuissardes) das modelos, e ainda apresentou as 1ªs bolsas da Cravo e Canela, que antes só fazia calçado!
E esse universo folk dessa vez traz uma pegada melancólica – Fabia conta que só tem ouvido blues e a própria trilha do desfile, executada ao vivo pela banda Mustache e os Apaches, ajuda. A cartela de cor, do preto e prata ao cobre e rosados; a beleza com batom também acobreado; esses volumes de século 19 que combinam sensação de conforto com fashionismo; os devorês – essa garota de Fabia está meio “bonjour tristesse” sem perder o allure, e também mais “real” com looks menos “desafiadores”. A estilista filosofa no backstage antes da apresentação: “Não preciso voltar ao que eu era antes, quando fazia SPFW; não tenho planos de ter milhares de pontos de venda, apesar de comercializar as peças no meu e-commerce. O que eu preciso é criar uma linguagem, um statement, um interesse, um impacto visual. Hoje estou feliz com isso, aqui na Casa de Criadores“. Nós também: se a reestreia da temporada passada veio pra nos animar, essa aparece como uma reafirmação do que Fabia quer fazer agora. (Jorge Wakabara)
