A Cotton Project é um caso muito interessante entre as marcas mais novas – no lugar de desfilar e assim se tornar conhecida, ela foi crescendo no que importa e sustenta, o varejo, pelo boca a boca do pessoal mais descolado de SP que curte o que encontra na arara, compra e usa bastante (aí rola aquele “onde você comprou a sua blusa?” e a fama, mesmo que em um nicho, cresce). E não se trata de um hype de uma estação – a marca traz em sua essência uma roupa mais básica, cool e supercharmosa que faz falta no mercado, principalmente no masculino, onde ela se foca mais (o fim da British Colony de Maxime Perelmuter, especialmente, deixou esse vácuo).
E eis que o estilista Rafael Varandas recebeu um convite pra desfilar o outono-inverno 2016, coisa que ele não imaginava fazer antes, e calhou de ser na hora certa: Acácio Mendes acabou de entrar na marca focado em produto (com Rafael seguindo na direção criativa) e ele tem experiência com passarela (já trabalhou com Alexandre Herchcovitch). Sorte a da Casa de Criadores e seu público, que ganhou uma marca no line-up que serve de exemplo de equilíbrio entre comercial e criação.
A Cotton Project nunca se propôs reinventar a roda da moda, mas seus looks transbordam desejo: a jaqueta bomber de cetim, o jeans com jacquard arco-íris, as calças bem ajustadas e mais curtas, a estampa da cadeira de praia (replicada em bordado de linha no boné e acompanhada da frase “Take it easy, dude”, ou “Relaxa, mano” em tradução livre, superdeboísta, de boa), a capa de chuva com estampa de folhagem, a blusa de gola alta, o couro com cordão pra ajustar na barra à parka. A eco bag que vem com os dizeres “Disturb” e “Do not disturb” é candidata à it bag hipster; e o clima do styling com polêmica papete usada com meia, mantonas de tricô deliciosas e gorros dão aquela sensação de férias de inverno na serra, irresistivelmente entediantes. Energia do bem em uma bela estreia. (Jorge Wakabara)
